História do Calçado Parte II

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Queridas!



Encontrei este texto do Prof. Luis Fernando Campella Rocha E achei que ele sintetiza tudo de uma forma muito legal e fácil de entender.



Espero que gostem!



No início de 1900, a tônica da preocupação é o progresso, depara-se com um modo de vida inédito e "moderno", vive-se uma grande revolução cultural da sociedade. O Déco se instaura e com seu rigor geométrico uma nova maneira de organizar os ambientes, os objetos e dos complementos do vestuário. O transatlântico, o charleston, a crescente vida noturna européia, cultua a figura feminina e a torna suscetível a mudanças e a Moda marca este início de século. Surge a figura do estilista.



Os sapatos têm estilo boneca, bicos arredondados, fechamentos em botões, bicolores, laços e peles como ornamentos, os saltos são grossos e baixos, explora-se o contraste entre as texturas, brilho versus opaco. Nos anos 20, Coco Chanel cria o tailleur e pede emprestado do vestuário masculino referência, cria os sapatos brogue ingleses, bicolores com salto para mulheres. Cria o desenho de um sapato aberto no calcanhar que se torna "clássico", o sapato "chanel". Escolhe e desenha biqueiras em tons escuros nos sapatos claros, escolhe o tom pele como cor e assim diminui a proporção dos pés.


A aristocracia européia se estabelece, novos burgueses europeus e os novos-ricos americanos exigem diversidade de modelos. As novas tecnologias são incorporadas e materiais inéditos são utilizados na fabricação.
Sobre a base do decolletée, no clássico scarpin, colocam-se saltos mais altos e com desenhos mais diversificados, a produção em escala chega aos calçados mas não se abandona a produção artesanal, a alta-costura em calçados sob medida sobrevive.Os novos estilistas criam uma nova era para o calçado, reinventam formas e transformam o calçado em objeto de desejo. Chanel, Poiret, Dior, Schiaparelli são nomes importantes e responsáveis por estas transformações.
O desenvolvimento econômico italiano nos anos 30 foi bastante tumultuado, os problemas políticos se agravam e a escassez de couro como matéria-prima obriga a busca de novos materiais. Ferragamo é um nome importante nesta fase, responsável pela introdução do uso interno do aço para suportar o arco do pé e adotar materiais até então considerados ordinários na fabricação de calçados, como a ráfia, o celofane, o crochê e o plástico. E é sua a idéia de veicular suas criações nos periódicos de moda da época.
Nos anos 40 e 50, são as musas do cinema e a reconstrução da Europa pós-guerra os grandes incentivadores do consumo de moda. Nos calçados os bicos redondos, as plataformas em madeira recobertas de couro dominam. Surge nos anos 50 o famoso stiletto, sapatos de salto alto fino tipo agulha e junto aos bicos finos alongados deixam os calçados femininos muito delicados. Grandes nomes elaboram propostas para este tipo de calçado, mas sem dúvida, é da interlocução entre Christian Dior e seu colaborador Roger Vivier que surge o conceito de vestir o pé, alongar perna, o calçado se transforma em uma peça que continua, alonga as linhas da perna. Perugia, Ferragamo, Jacques Fath são nomes importantes neste período e através do trabalho destes mestres elaboram-se novas formas, bicos, desenhos de salto e proporções para os calçados na década de 50.
Os anos 60, o período do "boom" econômico, são reconhecidos pelo grande e rápido desenvolvimento de estilos. Yves Saint Laurent, o "enfant prodige" da alta-costura e aluno de Dior, veste as mulheres com uma forte e dinâmica sensualidade, saltos mais baixos e bicos arredondados. Neste momento é a cultura norte-americana a favorita da juventude e a figura democrática de John Kenedy e da contestação estudantil, na figura da atriz Audrey Hepburn difundem a "ballerina", famoso sapato baixo de bico arredondado. Os looks espaciais com a ascensão da NASA chega ao vestuário e os calçados adotam materiais "futuristas". Neste momento o mocassim preto inspirado nos estudantes de Oxford aparece e domina entre os jovens.
Com o surgimento da mini-saia pela inglesa Mary Quant, saias e vestidos curtos são apresentados com botas longas e justas. Os materiais evoluem e o conforto, a maciez, condições de impermeabilidade, transpiração, acabamentos e coloração notavelmente se destacam nas indústrias do setor.
A cultura jovem domina os anos 70, a violência dos jovens da década anterior abre caminho para uma cultura da não-violência, em cuja ideologia prega-se um mundo sem guerra, baseado em vida comunitária com estreita ligação com a natureza.
Prega-se a filosofia oriental. Os calçados e peças do vestuário estão sendo inspirados em motivos folclóricos, étnicos. Propõe-se o uso da cor, a extravagância reina. O verniz, muito brilho, cores contrastantes, bicos redondos, saltos altos e baixos, mas sempre grossos. As plataformas cobertas de ráfia, juta, couro com acabamento natural, cores neutras finalizam a década.
São nos anos 70 que a influência das atividades esportivas acontece. O culto à forma física elege o tênis como calçado popular e é grande o desenvolvimento tanto quantitativo quanto qualitativo deste produto. As primeiras grifes se destacam e Fiorucci e Benetton se estabelecem, os sapatos baixos, simples, às vezes unisex, são amplamente usados.
O predomínio das imagens criadas pelos profissionais da comunicação junto à sugestão que os estilistas desejam e sugerem para o mercado ditam a moda. O novo estilista é um personagem das relações sociais, das crônicas da vida contemporânea, dos caprichos da vida cosmopolita. Abre-se a cena para o espetáculo. Neste momento, não se encontra mais um único estilo definido para cada momento, é na busca, na descoberta, seja de caráter estético ou propriamente técnico que se prende o desenho dos calçados e peças do vestuário dos anos 80. Neste caso o calçado não pode mais ser considerado simplesmente um acessório de moda, toma vida própria, os detalhes valorizam o planeta-calçado.
Nos anos 90, o panorama estético é amplo. Acontece um "revival" dos anos 50 no trabalho de Ferre para Dior, aparece um cidadão hippie ou folk para Viviane Westwood, uma busca sensual nos sapatos em peles exóticas de Andréa Pfister, a constante busca de originalidade nos trabalho de Sergio Rossi, um certo gosto barroco em Gianni Versace, visão futurista nas coleções de Jean Paul Gautier, e um refinado senso de exotismo nos trabalhos de Romeo Gigli.
Mas é o conflito entre a alta tecnologia e o artesanato que caracteriza os sapatos do século XXI, e é na mistura destes que acontecem o inusitado, surge o "sapatênis", uma versão híbrida do sapato em couro tradicional com o solado do tênis, em borracha sintética de ultima geração, garantindo conforto e status para os seus usuários. Impera a dinâmica industrial baseado na mistura de moda, marketing, alta tecnologia, design e mão de obra artesanal.
"Os tênis são um dos raros produtos industrializados que precisam ser reinventados sem parar", diz a revista VEJA, em 19/04/2000, à página.94. Os tênis são projetados em programas de computador e demoram cerca de 18 meses e gastam razoáveis quantidades de dólares para serem desenvolvidos. Exemplo é um dos últimos tênis Adidas, o KOBE confeccionado em couro sintético sem emendas nem costuras e que na sua aparência apresenta um brilho metalizado discreto da pintura dos automóveis.
As marcas dominam e não mais de forma tímida, escancaram PRADA, GUCCI, CHANEL por Lagerfeld, ADIDAS, HERMÉS, NIKE, CAMPER, DR. MARTENS, DR SCHOLL, FENDI, DOLCE E GABBANA, FERRAGAMO, CHARLES JOURDAN, SEGIO ROSSI, JP TOD'S, BIRKENSTOCK, são alguns nomes de empresas, equipes que seduzem com campanhas milionárias nossas opiniões. Estas empresas investem pesado no calçado como aliado para a sedução. O estilista não perdeu seu espaço, ganhou importância em nomes como Manolo Blanik, Patrick Cox, Michel Perry, Rodolphe Menudier, Christian Loubotin, Stéphane Kelian, Emma Hope, Jimmy Choo, oferecem um infinito número de modelos e criações.
O sapato do século XXI é fruto do design. Em futuro bem próximo poderemos encontrar um calçado exato para cada pé e personalidade, e se não o encontrarmos poderemos solicitá-lo e ele será fabricado em escala industrial, mas de maneira personalizada. Poderemos escolher os componentes que me melhor nos convier e poderemos participar da ação de personaliza-los.
A indústria brasileira ocupa espaço de destaque no cenário produtivo de calçados no mundo,mas quanto ao design ainda estamos longe de sermos reconhecidos como de qualidade, mas estamos trabalhando firme para minimizar estas distâncias.\


Luis Fernando Campanella Rocha é designer de calçados da grife Ferri e professor da graduação em Moda da Universidade Anhembi Morumbi.

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